terça-feira, 14 de novembro de 2017

Je t'aime... moi non plus!


   

   Os gemidos e suspiros sensuais - extremamente sensuais - da Jane Birkin neste momento, na Kibelandia, me jogam no túnel do tempo e lembro de situações bizarras acontecidas na minha casa, em Quaraí. 
   Anos 60, início dos 70 por aí, caiu na minha mão um compacto simples com a famosa música do francês Serge Gainsbourg "interpretada" eroticamente pela sua namorada Jane Birkin: Je t'aime... moi non plus!

   Proibidassa, banida de todas as rádios do mundo ocidental e denunciada publicamente pelo Vaticano, Je t'aime era o primeiro orgasmo feminino representado de forma explícita em uma canção. Mesmo em meio a revolução sexual dos anos 60, a música causa um polêmica mundial.

   De posse de tão poderoso instrumento revolucionário, eu e meu irmão não sabíamos onde esconder e quando escutar na eletrola Telefunken que ficava na sala de casa. 
Bem, foi para baixo do colchão, junto com as revistas de quadrinhos que também eram proibidas em casa. Esperamos um dia que a mãe havia saido e colocamos o single na eletrola.
   Foi fantástico ouvir a Jane Birkin. Embora não entendêssemos francês - nem precisava - foi um orgasmo! Mas não de orgasmo mesmo, que nem conhecíamos direito como era. O momento todo, a situação, tudo foi um orgasmo!  
   O proibido, o escondido e os gemidos daquela voz feminina maravilhosa que me fazia imaginar uma mulher magra, linda de cabelos lisos e compridos, não loira. Por incrível que pareça, mais tarde, anos depois, quando conheci a Jane, por fotos, a imagem batia com a que eu havia imaginado lá na sala de casa em Quaraí.  


   Não lembro como e nem porque o compacto foi confiscado pela mãe. Não nos deu muita explicação e nem pedimos. Sabíamos que estávamos fazendo algo "ilegal", clandestino. Cometendo um pecado. Afinal, os pais haviam sido alertados pelo padre da cidade sobre o perigo moral que rondava a nossa pequena sociedade.     
   Deixamos por isso mesmo.
   Agora a Jane geme e sussurra aqui no aparelho de som da Kibelândia e ninguém nem ao menos percebe. 
   Eu percebi...o orgasmo sem amor!

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