sábado, 15 de outubro de 2016

Reminiscências no magistério

   Por Eduardo Guerini

Na incerteza das motivações dos “cabeças de planilha” que reiteradamente tratam “investimento em educação” como “despesa”, e, na diabólica dúvida da sanha tirânica dos governantes em tratar professores como profissionais de segunda categoria impondo-lhes um “piso” que revela a penúria existencial. Os resultados nefastos são visíveis, uma multidão de analfabetos e desempregados funcionais.

     Em certo momento de nossas vidas, a memória nos trai, uma vez que lapsos são consequências do grau de envelhecimento e queda na “sinapse”, funcionalmente perdemos os sentidos para compreensão de movimentos e atos, voluntários ou não.

    Noutros tempos, os profissionais da educação eram tratados como nobres, intelectuais, formadores de uma elite que tinha discernimento, uma certa razão simbólica que se espraiava por todos os setores, independendo do seu conservadorismo e progressismo.

    É da memória reminiscente, o trivium onde se ensinava no percurso inicial, gramática, dialética e retórica, e, quadrivium, formação que provia meios e métodos para estudo da aritmética, geometria, música e astronomia. O cruzamento da formação educacional garantia as cinco virtudes: compreensão, ciência, sabedoria, prudência e arte.

    Tempos imemoriais que não voltam mais!!!

    Na atualidade quando o magistério, exerce uma função no limite da divisão social do trabalho, proletarizado e submetido a situações precárias, a atuação na construção do “QUE” e “POR QUE”, resultou em revelada desvalorização diante de novos modismos educacionais e tecnologias substitutivas da atividade intelectual e docente. Em reiteradas situações, os profissionais da educação sofrem de desalento, fruto do descaso de governantes e uma sociedade motivada pela fantasia que ciência e arte são naturalmente produzidas. Tais crenças são produzidas ideologicamente pela elite política educada e formada nas escolas e universidades.

    Na formação histórica das corporações universitárias que moldou a atual estrutura educativa e hábitos intelectuais, os clérigos tinham a função eclesiástica de ensinar, substituídos posteriormente, pelos escolásticos. Na atualidade, os intelectuais se transformaram em magister, e, simplesmente professor proletarizado.

    Se o ato de ensinar requer um profissional do ensino e da aprendizagem, as competências de ensinar, dominando certos conteúdos especializados acrescentam o contexto e seus alunos (sic)!!!

    Na ausência de “QUE” e “POR QUE”, a simples constatação do contexto educacional brasileiro indica um problema fulcral: como esperar transformações significativas, onde a maioria dos professores vivia em condições de mendicância, na batuta do “PISO NACIONAL”, 30% de docentes em média com contratos temporários, com apenas 54% dos docentes em média, com formação adequada na educação básica, e, apenas 44% com formação para educação infantil.

    Neste cenário desolador, a reminiscência de intelectuais contra a ordem clerical, a escolástica alimentada por textos que concediam autoridade aos intelectuais, a verdade está aberta a todos, nosso otimismo funcional destruiu a capacidade de disputa e resposta aos argumentos vis de governantes pragmáticos e corruptos.

    Tempos sombrios se avizinham, prenuncio de dias ainda piores, como se fôssemos capazes de suportar tudo o mais que se impõe na já corrompida e precária relação de trabalho docente. 

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