quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O Coronel é meu leitor...e colaborador

   Prezado Jornalista Sérgio Rubim,

   Vez por outra tenho me socorrido dos seus préstimos no sentido de denunciar algumas barbaridades praticadas no Estado.
   Uma delas diz respeito a comentários proferidos por funcionários públicos civis em reunião com oficiais da PM no interior da Secretaria de Segurança Pública de que o Quartel do Comando Geral da PMSC e do CBMSC, sairiam dos seus atuais aquartelamentos e seriam instalados numa das três torres que estão sendo construídas na Av. Ivo Silveira, ao lado do Morro da Caixa na região continental de Florianópolis, mais precisamente ao lado da Phipasa, concessionária FIAT.
   Aproveito o ensejo para informar que em maio deste ano deixarei a presidência da Associação dos Oficiais Militares de Santa Catarina (ACORS - Associação Capitão Osmar Romão da Silva), permanecendo apenas como membro da Academia de Letras dos Militares Estaduais (ALMESC).

   Sucesso e um forte abraço fraternal.


O encouraçado de pedra 
 
Quartel da Força Pública de Santa Catarina em 1916.
 Fonte: Ilha de Santa Catarina - Florianópolis. Gilberto Gerlach.  
   Por Cel PM RR Fred Harry Schauffert
O gigante de pedra fincado nos altos do Mato Grosso, que assistiu emudecido à passagem de dois séculos, está sangrando mortalmente ante a ignomínia do ser humano. Aquelas paredes silenciosas viram momentos de glória e de derrota. Por aqueles pátios, escadas, corredores e salas, transcorreu parte da história Barriga-verde. Personagens heroicos e covardes trocaram turnos na calada da noite ou no burburinho do dia. Através daquelas janelas, diversos olhos espreitaram o passar da história, interferindo muitas vezes no seu curso. Naquela frontaria, Trogílio Melo matou Adeodato, a última lenda viva da resistência do Contestado. No flanco direito do quartel, nasceu, na segunda década do século XX, o Corpo de Bombeiros Militar. Por aquele Portão das Armas triste, adentrou o General Ptolomeu de Assis Brasil para entronizar, por 13 dias, o gaúcho Amadeu Massot, Coronel da Brigada Militar que veio infligir suplício aos derrotados na revolução de 1930. Em 1935, o veterano edifício se engalana feliz para receber os festejos do Centenário de Criação da Força Pública Catarinense. No flanco esquerdo do quartel, o Tenente Rene’ Vèrges erigiu o obelisco comemorativo do 1º Centenário da Força Pública, monumento granítico com 8,20 metros de altura e cerca de 5 mil quilos. No seu entorno, o tempo testemunhou inúmeras gerações de Oficiais, praças e familiares a prantear, em maio de cada ano, a perda irreparável de seus companheiros de jornada no cumprimento do dever. Os tempos modernos insculpiram no mármore negro a nominata dos heróis desafortunados, esquecidos soldados da grei, que jamais serão esquecidos por nós. A história segue alternando apenas os personagens, enquanto a edificação segue perene e intocada, cumprindo com galhardia a missão que lhe fora outorgada. Por ali passou o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, Coronel Médico da Polícia Militar de Minas Gerais, para receber das mãos de Oficiais um exemplar da revista Laço Húngaro. Sob os céus daquele gigante, perdeu a vida em acidente aéreo o Tenente Aviador Durval Pinto Trindade, numa demonstração da Esquadrilha da Fumaça aos cadetes da PM que recebiam o espadim naquele dia. Assistimos, perplexos e emudecidos, à troca de comando dos nossos Oficiais pelos comissionados do Exército Brasileiro. Um hiato de incertezas foi plantado e atemorizou-nos. O tempo passou inexorável, e, com o advento dos ventos democráticos que passaram a soprar sobre o país, os nossos coronéis retomaram as rédeas da corporação. A modernidade se fez presente com a chegada das mulheres ao nosso corpo de tropa, a implantação da informática, do COPOM, da ambiental, da aviação, a instalação da sala de situação, a emancipação do Corpo de Bombeiros Militar, enfim, a história continuou seguindo o seu curso, apenas com a natural troca de turno dos personagens. Perene, porém, continuava o já velho encouraçado de pedra, atracado não mais no Mato Grosso, mas sim nas cercanias da Praça Getúlio Vargas, carinhosamente conhecida como a Praça do Quartel da PM ou dos Bombeiros. Como as constantes nuvens negras que pairam sobre as nossas cabeças, joga-se a pá de cal sobre os escombros do que restará da nossa histórica tradição. Podemos apagar a luz, fechar a porta e entregar a chave a um cidadão civil qualquer para que nos comande. Ou, ao contrário, defender em uníssono que a quadra do QCG, a mais valiosa unidade da PMSC, permaneça sendo palco das mais relevantes decisões em prol da segurança do cidadão catarinense.

SAIBA MAIS
Os crescentes comentários sobre uma possível transferência dos Comandos-gerais PM e BM para as torres da Secretaria de Segurança Pública, na área Continental em Florianópolis, geraram as mais calorosas reações por parte de quem reconhece e valoriza o vínculo da Polícia Militar de Santa Catarina com o prédio histórico onde está instalado seu QCG, desde quando a região era emoldurada por trilhos de bonde e criticada por ser distante do Centro.

Apesar das divergências entre historiadores – Osvaldo Cabral situa a transferência do QCG para sua sede atual após a Proclamação da República, em 1889, e Carlos Humberto Corrêa a antecipa para 1888 – é incontestável a relação de mais de um século da PMSC com o prédio originalmente construído para ser um colégio, testemunha ocular do progresso da cidade, a começar pela praça na qual se debruça, que já respondeu pelas alcunhas de Largo Municipal da localidade de Mato Grosso e Praça 17 de Novembro. Confira, abaixo, o destaque dado pela arquiteta e urbanista Eliane Veras da Veiga, no livro “Florianópolis – Memória Urbana”, ao que considera um dos principais referenciais arquitetônicos da cidade.

“A Força Policial da Província de Santa Catarina foi criada em 1835 pelo presidente da Província Feliciano Nunes Pires, e ficou instalada, nos primeiros tempos, no térreo da Casa de Governo. Dali mudou-se, indo ocupar, por volta de 1860, um prédio na esquina da rua Victor Meirelles, fronteiro ao Quartel de Artigos Bélicos, onde hoje está o prédio da Empresa de Correios e Telégrafos. Quando suas instalações tornaram-se insuficientes, ele foi transferido para um prédio em que funcionara um colégio. A fachada principal ostenta na atualidade uma gravação com a referência MDCCCLXXXIX (1889). Em 1927, o Quartel da Força Policial, também chamado Quartel da Força Pública, teve suas antigas dependências completamente remodeladas e construiu outras novas sobre um dos pavilhões antigos do Quartel. Em sete salas instalaram-se as 4ª, 5ª e 6ª Companhias, Companhia de Metralhadoras Mistas, Companhia Extranumerária, Pelotão de Cavalaria e Secção dos Bombeiros, com os gabinetes dos respectivos comandos das Companhias anexos, todos eles mantendo a mesma feição estética. Instalaram-se, ainda, a Contadoria, o Almoxarifado, o Corpo da Guarda, a sala destinada ao Estado-Maior e as Casas da Ordem, assim como as dependências apropriadas à barbearia, farmácia, dentista e cantina. Em 27 de setembro de 1927, foi feita a inauguração oficial da Secção de Bombeiros desta Capital, que ficou anexa à Força Pública. O Quartel foi considerado, na época, um dos melhores no gênero em todo o país.”


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