sábado, 7 de dezembro de 2013

Ilha da Magia


   Por Marcos Bayer

   A Ilha da magia, outrora Desterro, precisa ser compreendida para ser amada ou renegada. Sede de poder desde o século XVIII, político ou eclesiástico, cem anos antes da construção da ponte Hercílio Luz, em 1823, passa a ser capital do Estado Catarina.
   Ilha paradisíaca de águas limpas, doces e salgadas, vegetação abundante e fauna diversificada, especialmente no que se refere aos pássaros e aos peixes. Este paraíso melhor compreendido pelo poeta Zininho foi aos poucos sendo dilapidado pelo tempo, apesar do vento sul. Daqui governadores e prefeitos, salvo as raríssimas exceções, fizeram de tudo. Doaram terras devolutas aos seus parentes provocando a gênese de pequenas fortunas. Manguezais foram aterrados e deram lugar às lojas de conveniências. Balneários, ao norte, foram otimizados, inclusive sobre as areias.
   O mané, descendente católico e direto dos Açores complementava este caldo de cultura que formaria o intelecto da Capital. Desde o garapuvu à canoa, um requinte de engenharia naval, até o Terno de Reis ao Boi de Mamão ou à pesca da tainha. Nosso sortimento cultural. Paralelamente a isto, sob o desenvolvimento de uma casta governante, outra, tacanha, consolidou-se no funcionalismo público. Ineficientes e arrogantes, os governos sucederam-se. Raros construíram e desenharam os rumos da infra estrutura própria da tarefa estatal. A riqueza da Capital que deveria ter sido baseada sobre uma atividade turística, limpa e ambientalmente sadia, fez-se sem esgotos, sem cuidados e sem desenhos urbanos. Não tivemos a sorte que o prefeito Haussmann proporcionou a Paris. Aqui os manés tomaram conta. Não os manés legítimos, ladinos e engraçados. Mas, os manés com formação superior. Afora as ideias do arquiteto Felipe Gama D’eça que queria desenvolver a Ilha e o seu Campeche, tivemos, por sorte, o asfaltamento das principais estradas que cortam a Ilha. A construção civil que explodia aqui nos anos 70 do século passado, foi capaz de demolir belíssimos casarões e substituí-los por caixas de concreto com janelas diminutas, cujos nomes vão de Saint Germain até Puerto de Las Palmas. Esta concretagem insana sem saneamento básico ou arruamento apropriado estrangula a Ilha em dois pontos: na merda e no trânsito. Na avenida mais chique da cidade, a Trompowsky, é possível caminhar ao lado de simpáticas ratazanas, de quatro patas, que descem até a Beira Mar. Majestosas. Nossa riqueza, erroneamente, advém dos negócios imobiliários hoje superfaturados em 40%, pelo menos, da corrupção estatal de obras públicas estimada em 30%, de algumas atividades comerciais bem sucedidas e dos gastos educacionais. A droga ajuda a formar o PIB da Capital.
   A Ilha teve dois movimentos dignos de registro: o Grupo Sul nos anos 50 de onde Salim Miguel surge como expoente e, vinte anos depois, o Grupo do Studio A/2, ambos responsáveis por novas ideias.
   O jornal O Estado não pode ser esquecido como veículo de comunicação cuja foto de capa tinha a capacidade de moldar o dia que seria vivido na cidade. Politicamente, a novembrada de 1979, foi a melhor contribuição da Ilha para o Brasil.
   Se tivéssemos tido um Nelson Mandiba Mandela que dançava com alegria no Poder, teríamos tido um futuro mais promissor. E por incrível que pareça estamos no mesmo paralelo da África do Sul. Acorda Floripa. Expulsa teus ladrões.

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