quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A volta de Laurita Mourão

   Laurita Morão, a nossa antenada colaboradora do Rio de Janeiro, tem a mania de desaparecer de vez quando.
   Sabemos de seus compromissos familiares e encontros pelo mundo. Quando não está em Punta de Leste, provavelmente pode ser encontrada em Paris ou Nova Iorque. 
   Saudoso, resolvi lhe escrever um missiva dizendo da falta que sentíamos dela e que poderia mandar algum dos seus escritos maravilhosos para o Cangablog. 
   Laurita, atenta como sempre, respondeu de bate pronto e nos brinda com mais de um dos seus textos, atual e com a fina ironia que caracteriza seus comentários.

   Por Laurita Mourão

   Querido Sergio, grande Canga!   Aos 86 anos de idade não se é mais dono de seu tempo. Vive-se o dia-a-dia. O meu, com 5 pessoas de serviço doméstico em apartamento grande e muita visita, além de onze filhos, vinte netos e, por enquanto, 14 bisnetos, uma saúde precária muito equilibrada pela ingestão diária de 13 diferentes medicamentos, como você bem pode imaginar não se está muito para escrever. Bastante que, por sorte, leio, vou ao cinema ou ao teatro, acompanho novelas da TV Globo como esta última que terminou no passado dia 19: “AVENIDA BRASIL”.

   Entre outras muitas opiniões que podem ser dadas e já o foram sobre esta maravilhosa novela, a minha pessoal é que se trata da MAIOR HOMENAGEM QUE SE FEZ À ARGENTINA, nosso vizinho país de fronteira. E senão, vejamos:
   Pais brasileiros jogam friamente seus filhos no LIXÃO enquanto um casal de ARGENTINOS adota a menina de nome Rita cujo pai morre atropelado por um ÍDOLO do Foot-Ball brasileiro e que não se denuncia à Polícia, mas se casa com a viúva como numa espécie de reparação deixando ao léu sua namorada de infância.

   Entretanto, a brasileirinha abandonada sai do Lixão e é educada na ARGENTINA, sabe ler e escrever, lê Machado de Assis e todos os célebres autores franceses e de outros idiomas, fala idiomas, sabe de Culinária Fina a ponto de, por esse caminho, entrar como “falsa cozinheira” para a família da qual se quer vingar. Guia automóvel, guia motocicleta num trânsito dificílimo e nada lhe acontece. Tem qualidades “dedetivescas” em alto grau a ponto de tudo descobrir na casa do herói TUFÃO que aguenta calado e pagando todas as loucuras de uma falsa esposa inclusive educando os dois filhos que ela tem com o amante que casou-se com a irmã do Crack de maneira a poder viver e conviver com toda a família na mesma casa.

   A brasileirinha do Lixão sai de um Brasil onde se praticam várias imoralidades como exploração de trabalho infantil, para voltar ao Brasil com sua esmerada EDUCAÇÃO ARGENTINA de modo a poder conquistar e desmascarar toda uma família de subúrbio, sim, mas que dispõe de uma grande fortuna.

   Que melhor homenagem se pode fazer a um país quando se mostra, quase ao vivo, a transformação de um ser tão desprezado, sujo e faminto, numa bela jovem bem educada, completa, pura (porque nunca se entregou sexualmente a ninguém salvo ao seu amor-de-infância-do-LIXÃO, com quem, aliás, se casa) ?

   Na verdade quem a perfilhou e educou foi um casal argentino que, além de altas qualidades de generosidade, tinha fortuna, eram fazendeiros e ela dispôs, durante todo o desenrolar da história, de importantes somas de dinheiro para poder levar adiante seu grande projeto de VINGANÇA ! Enquanto aqui as nossas escolas, salvo algumas, não conseguem tão alto resultado e pais não são sempre tão cuidadosos com seus filhos, ainda é essa argentino-brasileira de 20 e poucos anos que consegue moralizar toda uma família sem perder suas qualidades intrínsecas aprendidas no país limítrofe.

   Grande autor o de “AVENIDA BRASIL”, deve ter firmes e fortes motivos para ter escolhido um casal de argentinos para “perfilhar-educar-preparar-aperfeiçoar” uma pobre indigente brasileira de Lixão jogada nele, como outros muitos, pelos próprios pais !

   Abraços, querido amigo, da sua admiradora,
 
   Laurita (Linhares Mourão de Irazabal).


Comentário de Armando José d'Acampora

Olá, Sérgio
   Acabo de ler o escrito de Laurita Mourão e fiquei pasmo com o que li.
   Tenho por hábito virar a moeda e ver o outro lado. No entanto, desta vez falhei feio.
   Não tinha visto esse lado fantástico que essa senhora acaba de me propor. É lógico que sua visão foi aceita totalmente, pois finalmente, consegui ver algo de muito valioso na tal novela.
   Não vi a novela por inteiro. Acontece que trabalho em um hospital e nele se fala de assuntos globais, os quais nem sempre entendo, pois não sou fã desta emissora. Acabei por ver uns dez ou doze capítulos, no máximo as duas últimas semanas e achei horroroso o tema e a coisa toda. Isto fez com que as pessoas me contassem o desenrolar do drama inteiro. Ficou mais fácil entender o que me era parcial.
   Ai ouso ler o relato de uma senhora de 86 anos, e tudo se abre como se fosse um leque, e eu passei a ver a tal novela como uma aula de cidadania, não nossa, mas Argentina.
   Espero que esta senhora escreva mais, pois é certo que continuarei a aprender com ela.
   Obrigado e um abraço forte.

2 comentários:

  1. Corretíssimo o autor e a Laurita, realmente qualquer País latino-americano, colonizado pela Espanha, possui um nível de educação superior ao do Brasil.

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  2. Olha a diferença: fomos "colonizados" por bandidos portugueses e espanhóis. A Austrália, por bandidos ingleses....

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