sábado, 30 de abril de 2011

"Que país é este?" (*)

Por Olsen Jr.

     A expressão aí em cima (denotando indignação) foi do político mineiro Francelino Pereira, posteriormente, foi título de um livro de humor do Millôr Fernandes, e em seguida, título de um livro de poemas de Afonso Romana de Sant'Anna, também , música do Legião Urbana. Do discurso político passando pelo humor, pela poesia e pela música, estava faltando a crônica, êi-la então.

 
     Ouço no rádio do Hägar (é um poderoso "gol mil" que me leva a todos os bares, quero dizer, lugares) fiel escudeiro, uma conclamação para o "Chevrolet test drive show". Se não conhecesse o alcance do aparelho, poderia supor que estivesse no Estados Unidos ouvindo um programa em edição bilíngüe. Mais tarde, leio no "Estado de S. Paulo" que o SP Fashion Week foi um tremendo sucesso. Na semana anterior, o governador do Estado de Santa Catarina, LHS, na praia da Vila, em Imbituba, para quem quisesse ouvir, havia garantido mais uma etapa do WCT-World Championship Tour de surfe, nem vou comentar o campeonato irmão Hang Loose Pro Contest.

 
     Tem um restaurante aqui perto de casa que serve uma comida mal feita e insossa a qual dá o nome pretensioso de fast food, também, se você preferir comê-la em casa, o serviço de entrega do boçal chama- se delivery. Para quem pretende trabalhar no local, o proprietário exige que faça um test drive porque, segundo se soube, cansou de ser autuado por motoristas inabilitados. Nos finais de semana, oferece uma oportunidade para os clientes virtuosos da música, numa reunião a qual se deu o nome singelo de jam session. Está claro que tudo é planejado, adrede, num prazo limite conhecido na intimidade como dead line, e por tudo isso, os garçons têm o maior orgulho do que fazem, são legítimos work class hero. 

 
     A universidade tem dado a sua contribuição na área, porque lá não se escrevem artigos, mas sim, papers. Mas é outra história. O que é bom lembrar, ou não é demais fazê-lo, é que um idioma como o nosso, que consegue arrolar mais de cem sinônimos para a palavra dinheiro, mais de 200 para a palavra imbecil e mais de 300 para prostituta, não deveria submeter-se assim a uma língua estrangeira que resolve tudo com apenas 50 mil vocábulos. Somente uma ignorância apropriada pelo imaginário coletivo permite que se gaste tanto, em tamanha permissividade, para se obter tão pouco,
"it's not true?"...

(*) – Outra “palhinha” do livro de crônicas “Tu Viverás Também” com edição prevista para o mês de junho.

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