domingo, 21 de novembro de 2010

“SERVIÇO” E TRAIÇÃO

Por Edison da Silva Jardim Filho 

O empresário biliardário- muito devido ao dinheiro público (BNDES, principalmente) e às informações privilegiadas da Petrobras e de outros órgãos estatais (já ouviram falar no ex-diretor-gerente de exploração e produção e ex-presidente da Petrobras Distribuidora, Rodolfo Landim?)-, Eike Batista, talvez pela primeira vez na vida tenha sido razoável, deixando de passar a força bruta de sua patrola financeira por cima da vontade e do direito das pessoas e das comunidades possíveis de serem afetadas por suas radicais ações empresariais.
Na quarta-feira da semana passada, dia 17 de novembro, ficou-se sabendo, pela imprensa catarinense, que a empresa OSX comunicara, na véspera, à Comissão de Valores Mobiliários, sob a forma de “fato relevante”, atendendo a sua condição de companhia aberta, ou seja, com ações negociadas em Bolsas de Valores, a decisão de não mais construir um mega estaleiro no município de Biguaçu. Nesse comunicado, a OSX ainda menciona que optou por construí-lo no Complexo Industrial do Porto do Açu, existente no município de São João da Barra, no Estado do Rio de Janeiro. 
Em uma reportagem da imprensa escrita, também tomou-se conhecimento de que, na segunda-feira, dia 15 de novembro, em resposta ao procurador-geral do município de Biguaçu, Dr. Anderson Nazário, que lhe pedira, pelo Twitter, a instalação do estaleiro em Biguaçu, o empresário Eike Batista postou: “Não é o que os catarinenses querem.”
O empresário Eike Batista sabe, como todas as pessoas bem informadas, que a vontade dos políticos brasileiros não representa, há muito tempo, a vontade dos cidadãos e das comunidades! Mais do que isso: o empresário Eike Batista sabe, melhor do que ninguém no Brasil, como é “motivada” a vontade dos seus políticos! Aliás, qualquer um pode acessar o site da Justiça Eleitoral e verificar as relações dos doadores com os respectivos valores doados “por dentro” para os candidatos eleitos, não sem dar, depois, asas à imaginação quanto aos montantes que forniram as mesmas campanhas “por fora”, ou seja, o tão famoso e imperscrutável caixa 2.
Essa questão da construção de um mega estaleiro no município de Biguaçu, é exemplar do que se está afirmando. Nenhum político catarinense, dos grandões aos de menor potencial ofensivo, se posicionou contra o empreendimento. E isso, mesmo depois da publicação do parecer técnico- peremptório e incontrastável- encaminhando pela não concessão do licenciamento ambiental da obra, subscrito por cinco competentes, zelosos e corajosos funcionários da Coordenação Regional Sul do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade- ICMBio, sediada em Florianópolis, os analistas ambientais Drs. Paulo André C. Flores, Marcelo Kammers, Mário Luiz Martins Pereira, Heitor Macedo e Claudinei J. Rodrigues. Muito pelo contrário! Todos os políticos catarinenses com mandato defenderam, e de forma beligerante até, a instalação do mega estaleiro no município de Biguaçu.
Entretanto, dois se destacaram pelo conjunto da obra: o ex-governador e senador eleito, Luiz Henrique da Silveira, o grande mentor intelectual e- com o perdão pela expressão chula, mas não encontra-se outra mais representativa da profundidade e extensão do “serviço” prestado por Sua Excelência- “espalha merda” da opção pelo “desenvolvimentismo econômico” ao preço da degradação do belíssimo patrimônio ambiental catarinense; e o deputado federal e futuro secretário de desenvolvimento econômico, Paulinho Bornhausen.
O deputado federal Paulinho Bornhausen levou ao extremo o seu esmero, em dois momentos. Quando da publicação do parecer técnico pelo ICMBio, ele saiu-se com o seguinte rompante: “Santa Catarina foi apunhalada pelas costas!” Em seguida, baixou ordens ao seu preposto na FATMA, o presidente Murilo Flores, para que fizesse tratativas junto ao IBAMA em Santa Catarina, visando chamar para si a responsabilidade pelo processo de licenciamento ambiental da construção e operação do mega estaleiro da OSX no município de Biguaçu.
Imagina-se o dolorido sentimento de traição que passou a experimentar o deputado federal Paulinho Bornhausen em relação ao empresário Eike Batista, agora com a bem-aventurança da eleição e posse de Raimundo Colombo como governador, e de sua garantida e iminente nomeação para secretário de desenvolvimento econômico...

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