sexta-feira, 13 de agosto de 2010

REFLEXÕES SOBRE A ATUALIDADE: ÉTICA E ALIANÇAS


Por Emanuel Medeiros Vieira

Nosso "estar no mundo" (uma hospedaria tão finita!) é também uma opção axiológica (referente aos valores).
Posso resignar-me a viver passivamente ou buscar, através da prática dialógica e da intersubjetividade das consciências, tornar mais iluminada a convivência humana no universo que nos foi dado viver, visando taxas maiores de justiça, de dignidade e de igualdade.
Caminhante: o caminho não existe. O caminho se faz ao caminhar.
Os indivíduos reagem ao mundo, não como ele é na sua objetividade, mas conforme ele é percebido pela consciência.
Nesse sentido, o que eles dizem a si mesmos - mais do que os próprios eventos da vida em si -, determinam a qualidade das emoções que experimentam.
Isto é, como eles a internalizam.
Buscamos a plenitude do ser.
NÃO ALMEJAMOS A PERFEIÇÃO, MAS A PLENITUDE.

Onde quero chegar?
Nas instânca das relações de poder, as alianças não são impostas pelos deuses, mas são fruto da escolha humana.
Diz-se sempre: não posso governar sem alianças.
"Preciso engolir todos os que queriam partilhar da responsabilidade de governar, distribuindo benesses", alegam alguns.
É o velho álibi.
Lembram-se da época de FHC, quando ele falava da "ética da conveniência" (em contrapartida à "ética da convicção", usando a terminologia de Max Weber), para justificar suas aliança com o finado PFL (atual DEM)?
E agora: o que significa a aliança do PT com o PMDB?
Mais tempo de TV e distribuição de benesses (por exemplo, fundos de pensão das estatais, onde rolam bilhões de reais, e setor elétrico, espécie de capitania hereditária do oligarca Sarney e seus apaniguados).
Quando se condenam alianças com a escória da política nacional, argumenta-se que "o buraco é mais embaixo".
O que pode haver de mais radical (no sentido de radicalidade do ser) do que a ética (não a da propaganda de TV, mas a que habita o coração do homem) na "polis"?
Afinal, cidadania é só um termo para papagaios ou marqueteiros?
(Dante Alighieri, em "A Divina Comédia", colocou no Segundo Círculo do Inferno, entre outros, os avaros e os gulosos. Certamente, ele incluiria hoje os marqueteiros.)
Onde o buraco é mais embaixo?
Posso cair numa visão meramente acadêmica ou maquiavélica (o que é mais grave).
"Poder é assim mesmo", dizem alguns.
Não, não é.
Eles "o tornaram nisso que está aí."
É apenas um álibi compensatório para justificar a mediocridade e a corrupção.
Ou então (como é mais comum), argumentam: "outros fizeram antes".
Sim. Fizeram.
Mas malfetorias passadas podem justificar patifarias atuais?
Sou obrigado a conviver com velhacos e ladrões?
Não, não sou.
Outros dizem que o tema da corrupção é assunto "pequeno-burguês".
NÃO É!!!
Num país de desigualdades obscenas, corrupção é a escola que falta, a saúde que não existe, a segurança fictícia.
Se é para apenas para "ganhar", que sejam claros.
Nenhum humanista quer que sua inteligência seja subestimada.
A hipocrisia é sempre descoberta.
Só podermos nos tornar SERES PLENOS, através da ética pessoal, de nossa prática nessa caminhada tão provisória (áspera mas compensadora).
Sim, queria falar em honra, num respeito não meramente retórico por todos aqueles que padecem os efeitos de uma exploração que vem desde 1500.
O resto é apenas jogo de poder. Que também passará.
(Sigo as pegadas de São João e de Hegel: é possível fazer, porque o Espírito Sopra onde Quer.)
(SALVADOR, AGOSTO DE 2010)

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