sábado, 10 de abril de 2010

DIÁRIO DA PROVYNCIA XIII

Olá, camaradas, salve!
Francamente falando acredito que não há saída...
A não ser a famosa e folclórica saída proposta no período da ditadura, a única possível para a época, "a do aeroporto do Galeão"...
Quando não há saída, fica o humor... Remember do "Pasquim"?
A música "Silence is Golden" foi um dos sucessos de um grupo chamado "Tremeloes", assim mesmo, sem acento...
Os Tremeloes foram preferidos aos Beatles por um executivo da Decca (o cara deve estar procurando emprego até hoje) em 1962 no início da carreira...



OS CÃES


Por Olsen Jr. (olsenjr@matrix.com.br)

Várias pessoas que conheço aqui em Florianópolis vieram passar um final de semana, normalmente um feriado e acabaram ficando. Alguns já moram no pedaço há mais de 25 anos. Porém, e sempre tem um “porém” como lembrava o amigo dramaturgo Plínio Marcos, outros não aguentaram sequer dois meses. Um deles alegou para sua partida o fato de que aqui as pessoas falam demais, exemplificava “você vai à panificadora, a atendente puxa assunto e a conversa não termina mais enquanto os outros clientes têm de ficar ouvindo o palavreado e esperando para ser atendidos; você pega um ônibus, acontece o mesmo com o cobrador, e assim vai, é no supermercado, na casa lotérica e até em encontros fortuitos nos espaços públicos, o que deveria ser apenas um cumprimento acaba desdobrando-se numa catilinária sem hora para acabar”, e concluía “está louco, não dá pra aguentar isso”...

Em algumas questões relativas ao comportamento, credite-se ao hábito ou ao bucolismo que ainda conservamos.

Na agência lotérica onde espero para pagar a conta de luz (que já chegou com o prazo de vencimento excedido em dois dias) a fila está lá fora. Na porta estreita em cima de um tapete de sisal, três cuscos formam uma espécie de comitê de boas-vindas. O sol da manhã oficializa o convite para que se espraiem ali na frente e deixem reluzir a pelagem que abarca as carcaças bem nutridas dos animais o que denota a boa procedência de seus lares.

Os usuários dos serviços da agência se limitam em erguer os pés quando passam por eles ou então, em desviarem-se de um ou de outro quando resolvem caminhar no espaço restrito da abertura da porta.

“Esses cachorros poderiam sair daqui” afirma um senhor que reluta em entrar ou permanecer ali no limiar da porta; alguém próximo de mim faz menção de enxotar os cães, mas desiste logo ante a indiferença deles por qualquer apelo.

“Quem deixaria esses cachorros soltos por aí?”, resolve questionar uma mulher... “Vagabundos é que eles não são”, constata outro “é porque eles não têm cara de vira-latas com esses pelos brilhantes”, observa um terceiro...

Enquanto se comentam sobre as dóceis animálias, um nativo começa a contar a história de como já ganhou três vezes na loteria. Algumas pessoas fingem não prestar atenção na conversa, mas não desgrudam os ouvidos e também os olhos, ora na indistinta narrativa do “sortudo” ora na presença dos bichos, um que está deitado e os outros dois que parecem exercer uma severa vigilância sobre o espaço iluminado pelo sol onde estão.

O sujeito da loteria disse que foi muito infeliz na vez em que pensou, poderia ter ganhado muito, porque houve “trocentos” acertadores naquele concurso e ele acabou ganhando pouco.

“É incrível a quantidade de cachorros soltos por aí”, diz alguém... “Ali mesmo, em frente do supermercado, esses dias, contei oito cachorros desses de rua”...

“Mas no geral”, continua o “premiado”, “se computar tudo o que apostei e o que ganhei, estou no lucro ainda”... As pessoas ficam em silêncio por momentos como se estivessem avaliando o que ele tinha ganhado com o que tinha gastado naquelas apostas, todos naturalmente acreditando piamente no que estava sendo dito.


“Acho que uma pessoa que gosta de cães não deveria deixá-los soltos por aí”, experimenta alguém para continuar o papo. “Eu concordo, você tem de dar condições para os bichos, mas mantê-los num lugar apropriado”, alimenta o hein-hein-hein um outro que parecia entender do que estava dizendo.

Naquela meia hora em que permaneci no local, a conversa não saiu disso. Lembro que contei mais de uma dezena de vezes os ladrilhos da parede nas costas dos caixas que atendiam a todos com infiel indiferença...

Quando saí, a arenga prosseguia sem dar mostras de se esvair por falta de iniciativa, do “ganhador” afirmando “aposto sempre nos mesmos números, acho que a gente tem mais chance, com estes, por exemplo, já fiz uma quadra”...

Já ultrapassando a porta, pude ouvir “sem contar a grande quantidade de cachorros que se encontra morta por aí”... Menos esses, penso, enquanto me desvio de um deles, bem nutrido, luzidio e faceiro e que me lembrava certo político, mas era outra história!

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