sexta-feira, 6 de novembro de 2015

JOÃO SANTANA, o marqueteiro que Lula mandou para Cristina Kirschner

Propaganda do candidato Mauricio Macri
comemora adesão do terceiro colocado no primeiro turno.
 
   Por Laercio Melo Duarte    
   João Santana é atualmente o marqueteiro político mais bem sucedido do Brasil, embora viva praticamente clandestino com a mulher num amplo apartamento de classe A, situado na região dos Jardins, próximo a Avenida Paulista, em São Paulo. Já ganhou oito eleições presidenciais pelo mundo, incluindo as três últimas realizadas no Brasil. Até a passagem do milênio, era apenas mais um poeta e músico baiano, meio hippie, meio maluco, ligado com o movimento de contra cultura em Salvador. Fez parte do antológico grupo Bendegó e participou da gravação da canção "Canto do Povo de um Lugar", no álbum "Jóia", de Caetano Veloso, em 1975. Cansou, como ele mesmo diz. Pra gente ver como o mundo dá voltas... e perdemos um promissor artista da "Era de Aquarius".
   
Jóia, "Canto do povo de um lugar",  1975, Grupo Bendegó e Caetano Veloso
     João Santana entrou pra valer no mundo do consumo, inicialmente como publicitário comum, em seguida, vendo o sucesso de outros colegas como Nizan Guanaes e Duda Mendonça, enveredou pelo campo do marketing político. Depois de descansar do sufoco que foi a reeleição de Dilma, deu uma longa entrevista para o livro lançado no início deste ano , denominado “João Santana, um marqueteiro no poder”.  Nesta obra, ele fornece gratuitamente dicas para quem quer se aventurar  no universo do marketing eleitoral. “Perde quem não sabe atacar”, é sua primeira recomendação, ao considerar a campanha do candidato Aécio Neves, seu concorrente em 2014, como uma das “mais medíocres já feitas no Brasil”.  

   Operação Marina
   Um ponto importante do livro é como explica o que chamou de “Operação Marina”. Lembra que “ela corria leve e solta, inatingível”. De fato, depois que Marina assumiu a cabeça de chapa após o acidente aéreo do titular Eduardo Campos, disparou nas pesquisas, em parte graças a sua pregação que misturava desenvolvimento ecologicamente sustentável e reformas na economia, além de um passado pessoal impecável.  João Santana conta que chamou Lula, Dilma e o coordenador Aloísio Mercadante e explicou-lhes a necessidade de “antecipar o segundo turno” e partir com tudo pra cima de Marina. Obteve carta branca da cúpula petista. Dias depois, a campanha de Dilma começou a fazer sinistras profecias, caso Marina vencesse. A primeira praga era que iria faltar comida na mesa dos pobres. Em seguida, que o futuro ministro da economia de Marina era da turma neo liberal e faria a economia voltar a um tempo de “miséria”, e, finalmente, que o governo de Marina retiraria todas as “conquistas” dos trabalhadores. Nas mídias sociais e no boca a boca da Militância, carimbava Marina de “traidora”, por que havia abandonado o PT. O efeito foi devastador e Marina despencou, ficando fora do segundo turno.
  
   João Santana refuta todas as acusações de que teria passado do ponto. “Se houve exagero, foi de qualidade fílmica e criativa”, reage às críticas de que teria sido anti ético, já aproveitando para um auto elogio, como costuma fazer ao avaliar o próprio trabalho. Tampouco entra no mérito do conteúdo de suas denúncias, preocupado que está apenas com a questão da técnica: "Por que não responderam à altura, não provaram que era mentira?". A questão ética também parece não ser problema para alguns colegas de profissão do marqueteiro,  ouvidos pela reportagem no lançamento do livro: “É um exuberante exemplo de pensamento estratégico bem definido",  comenta um deles, enquanto parece tornar-se consenso que "daqui pra frente é preciso saber mais atacar do que defender, mesmo sendo governo".
 
   É nessa mudança de paradigma que João Santana confia agora, em seu novo e mais importante desafio. Levar o candidato de Cristina Kirshner, Daniel Scioli, à vitória na Argentina. A meta de vencer a eleição já no primeiro turno falhou, complementando o fracasso de uma jogada de risco empreendida por João Santana, qual seja, colocar Lula como protagonista da eleição Argentina, aproveitando-se de sua proximidade com os Kirshner e os bolivarianos. Lula entrou firme na campanha da televisão e nos palanques. Cristina chegou a insinuar que, com o apoio de Lula e tendo Scioli no poder, a Argentina passará a integrar o grupo dos BRICS, que então se chamará BRICSA.  É preciso reconhecer que eles não pensam pequeno! Lula, por seu lado, assumiu completamente a defesa do continuísmo, dizendo que os Kirshner mudaram a história da Argentina e, caso Scioli perca para o candidato da oposição, o país vai retroceder e os trabalhadores perderão as conquistas sociais da última década. Com isso, tenta repetir a tática utilizada no Brasil, o terrorismo eleitoral, aquilo que João Santana chama de "saber atacar".
 


Vídeo da campanha de Scioli tenta comparar o oposicionista
 Macri com ministro da ditadura militar


   "Você se imagina sem teto? Se imagina com fome? Imagina realmente voltar para trás?”, gritam na televisão os reclames do candidato governista. A campanha tenta chocar também a classe média, ameaçando que a eventual vitória de Maurício Macri no segundo turno, vai desestabilizar a geo política sul americana, o que não aconteceria caso Scioli vencesse, porque ele estará próximo a Dilma, Lula, Maduro, Evo Morales, enfim, os chamados bolivarianos.  Por seu lado, Mauricio Macri apela para a auto estima dos argentinos, acusando a campanha governista de provocar “uma intromissão estrangeira, absurda e indevida em nossos assuntos internos”, referindo-se à presença de Lula. Pelo sim, pelo não, João Santana retirou o barbudo da campanha no segundo turno, pelo menos até agora. Nos círculos internos, especula-se que Lula mais tirou votos de Scioli do que acrescentou, devido justamente a esse sentimento de intromissão estrangeira.

    A expectativa de vitória frustrada de Scioli no primeiro turno, causou uma debandada de apoios, políticos e empresariais.  Mauricio Macri já virou nas pesquisas e está em largos passos a caminho da vitória, principalmente agora, que acerta os ponteiros com o terceiro colocado no primeiro turno, o qual teve significativos e talvez decisivos 10% dos votos. Na edição desta quinta feira, 5 de novembro, o jornal La Nacion critica a campanha governista e cita nominalmente João Santana, acusando-o de atropelo e amadorismo “poucas vezes visto”. O editorial diz explicitamente que “A campanha suja e de medo, impulsionada por Cristina Kirshner e abençoada, em princípio, por Daniel Scioli, não está apenas resultando num verdadeiro fracasso. Encaminha-se também para um papelão histórico".



Vídeo da campanha de Dilma. Qualquer coincidência, não é mera semelhança.

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