quarta-feira, 7 de outubro de 2015

No amor nossos erros não duram muito

   Um conto de Emanuel Medeiros Vieira

boina

   Eu disse assim: o futuro chegou depressa demais, moça.

   Ela me olhou.

    – Nunca te amei.

    Eu sabia, mas não comentei nada.

    Foi quando me lembrei ou me “inspirei” em São Paulo e Thornton Wilder: no amor nossos erros não duram muito.

     – Não?

   Me indagou, um tanto sardônica.

   Ela sorriu, boininha amarela, roupa de normalista, saia plissada, tênis, cabelos loiros oxigenados.

   Ela amava outro (quando  estava comigo). Sinceramente (quero dizer: sem arranjo mental), isso  não me importava. Me tocava a contemplação da grama molhada, do pássaro que chegava todos os dias no mesmo horário, do sol batendo de manhã no meu quarto.

    Eu andara muito – tragos, bordéis, agitação, exílios.

    Agora: quieto.

    Só queria ter outro dia, e mais outro. Até.

    Ela me disse com a onipotência dos 25 anos: “Hoje  você se contenta com pouco.”

    Não: era muito o que eu tinha.

    Anoitecia. Ela se despediu. Foi um encontro casual, não a via há anos. Eu fora comprar pão na padaria. Pão. Quente. Um cachorro latia, tão só, sim, anoitecia, a lua era minguante.          

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