sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Didi eternamente

   Florianópolis, 31 de julho de 2014 - Recebi com grande tristeza, agora a noite, a notícia de que o jornalista Valdir Alves, o Didi "abençoado", havia nos deixado.
   Fazia tempos que o Didi vinha lutando e engambelando a morte. O fazia com galhardia. Várias vezes ficamos até tarde da noite comentando sobre a morte e rindo da vida. Não existia medo. Nunca existiu!
   Será velado amanhã (dia 1 de agosto) no Itacorubi e cremado às 15 horas em Camboriu.

Abaixo algumas história que registrei durante a andança do Didi por aqui:

Didi eternamente (Buenos Aires, 25 de abril de 2010)

    Recebi esta madrugada com grande alegria a notícia de que o querido amigo jornalista Valdir Alves fez um implante de células tronco com sucesso. Segundo o Didi "já está ensaiando uns passos de salsa".
   Liberados pelos médicos deve pousar na Ilha esta semana. Diz que já está se sentindo melhor mas atribui isso ao psicológico. Lá no meio da mensagem diz que "a gratidão (dos amigos) por tanto carinho será eterna".
   O cara botou umas células tronco no coração e já acha que vai durar eternamente. Como disse Borges, o homem se eterniza na sua obra e na memória dos amigos.

A tua eternidade está garantida Didi. Vida longa amigo.

Caminhada "terapêutica" (Florianópolis, 16 de abril de 2014)
(Artigo que escrevi sem dar nomes aos bois. O "Robério era o Didi)

Didi com o Soares da Kibelândia. 
Imagino os dois, agora, na Kibe II
   Sempre observei encontros de pessoas que já viveram mais de meio século. Invariavelmente falam de doenças e medicamentos.
   Na conversa, parece haver uma disputa sobre quem tem mais conhecimento médico, corolário de enfermidades e lançamentos de novos remédios. De médico e louco todo o mundo tem um pouco...dizem.    Achava isso esquisito, tipo coisa de velhos.
   Hoje, na minha caminhada matinal encontrei um velho amigo, também caminhando. Paramos para trocar umas idéias, tenho várias repetidas. Conversa vai, conversa vem, o assunto chegou na saúde de cada um.    Bem, o Robério já teve problemas sérios de coração, um infarto aos 30 anos, driblava uma diabetes que, segundo ele, surpreendentemente desapareceu e agora, além da pressão alta, enfrenta problemas de fígado devido a uma Hepatite C descoberta tardiamente.
   Falei do fracasso do meu tratamento para liquidar o vírus da Hepatite C e de minhas andanças pela Eslovênia, em setembro, atrás de um remédio "milagroso" que não havia sido liberado ainda pelo FDA americano.
   Ríamos da converssa de "velhos" quando passa de bicicleta outro personagem, esse músico (Joel Brito), nos cumprimenta, anda alguns metros e volta. Entrou no assunto como profundo conhecedor. Casualmente faz aniversário na mesmo 17 de junho que eu. Eu rumo aos 61 e ele, 62.
   Para ilustrar melhor a sua participação na conversa, abre uma sacola de plástico que trazia pendurada no guidão da bicicleta e nos mostra uma quantidade considerável de caixas de...Losartana. Remédio para a pressão!
   Rimos um monte! Não pude deixar de lembrar a resposta do arquiteto Oscar Niemayer quando perguntado por uma jovem repórter de TV como era ter 101 anos de idade:

- Uma merda, minha filha. Ficar velho é uma merda!
   Não era o nosso caso, para 101 nos falta muito...ainda.
   Mas ao ver o remédio para pressão do nosso atlético desportista, Robério, sempre ilustrado e com boas histórias para contar, lembra que certa noite ofereceu um jantar em sua bela casa na praia.
   Contratou um chef de cuisine e, com a casa farta de amigos, deu tratos à bola. A noite estava extremamente aprazível, Robério serviu as bebidas, que foram sendo degustadas maneirosamente com calma e apreciação de sabores e odores.
   Enquanto isso, o chef fazia malabarismos na cozinha que ficava integrada à sala, à vista de todos. repentinamente o chef meteu a mão em um bolso da calça, em outro, no bolso da túnica e nada. Procurava insistentemente alguma coisa que, por não achar, lhe imprimia um ar de preocupação no rosto vermelho.
   Robério, percebendo o fracasso da busca, pergunta ao cozinheiro o que buscava.

- Meu remédio para a pressão, respondeu, incontinente.

   Imediatamente surgiram da mão de quase todos os convidados caixas e caixas dos mais variados nomes e laboratórios de remédios para pressão alta.
   Bem, a partir daí o assunto remédio dominou o imaginário e o conversário da festa!

O Didi tinha essas histórias...

A viagem do Didi...
...assim escrevia o Didi:
Estava amanhecendo nas areias da praia do Campeche, este paraíso no leste da Ilha, quando, sem nenhuma razão ou motivo palpável, me ocorreu uma cena: Gertrude Stein, a lendária moradora da Rue de Fleurus, a madame que nomeou a “lost generation”, no estertor da vida, segura as mãos de Alice B. Toklas, amante e dedicada companheira de toda uma vida, e indaga: “qual é a resposta?” Miss Toklas, serena, retruca: “e qual é a pergunta?” Que bom que a vida tem estas mulheres maravilhosas.
Valdir Alves


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