segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Somos governados por espectros

Por Eduardo Guerini
Em uma tenda com a cigana para
 prever sucessão de 2014. No atual
 estágio de lançamento de campanhas
 e inúmeras articulações, consultando
 o tarô para saber o destino dos
 candidatos em campanha eleitoral antecipada

   Como diz aquele velho enredo da música popular brasileira, na musica de Chico Buarque “Vai Passar”, na esteira da nova eleição que é esquadrinhada nos conchavos palacianos, o senso comum não consegue perceber que continuamos “levando pedras feito penitentes”, enquanto “barões famintos e bloco de napoleões retintos” fazem tratativas para manter o poder a qualquer custo.
   Se o processo eleitoral (ou re-eleitoral) está em jogo, sua caracterização é de extremada disputa competitiva pelo voto do eleitor(a). As novas (sic!!!) configurações partidárias que são orquestradas são simples manifestação da subordinação de partidos e eleitores, por sucessão - seus candidatos, a lógica do mercado de votos financiado pelo poder econômico das corporações que tratam seus interesses privados acima do interesse público. Daí, pensar que as eleições são limpas, não passa de uma mera especulação ingênua de algumas almas bem intencionadas no portal do Inferno.
   Se o conceito de vontade geral é sempre apontado pelos limites naturais e morais (políticos) para garantia de formação de um corpo político representativo, apoiado nos princípios convencionais, a questão a ser resolvida no caso brasileiro, é encontrar um ponto de inflexão que estabeleça uma comunidade verdadeira, na qual a tensão entre o individual e o coletivo seja resolvido pelo compromisso triangular permanente, congregando - Estado, Empresários e Trabalhadores.
   Como a crise de representação política chegou ao seu ápice, os eleitores brasileiros exigindo comprometimento ativo de seu representante em prol do interesse coletivo, os representantes políticos e gestores públicos se afastando cada vez mais dos anseios populares, satisfazendo os interesses econômicos de quem financia as campanhas - a saber, as grandes empresas que tem negócios com o Estado. Será uma eleição dispendiosa, dada a necessidade de se utilizar as novas tecnologias midiáticas e informacionais, para transformar nossa dura realidade em algo encantado, em que o real aparece de forma espúria e virtual. Essa convergência entre mídia, operadores de institutos de pesquisa, partidos políticos, governos e candidatos, transformou a eleição numa grande ópera bufa.
   Se de um lado, as campanhas partidárias são “macdonaldizadas” no sentido de suprir uma necessidade rápida e instantânea do eleitorado através das constantes “pesquisas de opinião” e impressões de populações estratificadas e mobilizadas pelo mercado e marketing eleitoral. Noutro lado, o eleitorado que combina um grupo heterogêneo de cidadãos, com alto grau de adesão aos mecanismos representativos da democracia moderna, apresenta uma falta de fé e apatia. 
   O que talvez seja evidente no horizonte da democracia brasileira e seu débil sistema político-eleitoral é que a falta de um marco ideológico claro, preciso e distinto, pode se transformar num sério obstáculo a ratificação da formação da vontade geral, elemento crucial da soberania popular, e, sustentáculo dos representantes eleitos. A descrença nos partidos políticos e na elite política, pode remeter a sociedade brasileira para o “desencantamento democrático” e os sombrios desejos autoritários.
   A transfiguração mítica (fantasia) se dissolve pelo espetáculo do marketing eleitoral e os magos da propaganda, afastando definitivamente os atores reais - os cidadãos.


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