quinta-feira, 17 de março de 2011

O carma nuclear japonês

Por Sérgio Rubim
 
Muito se tem falado da capacidade fantástica de organização, da vontade férrea e disposição do povo japonês para enfrentar catástrofes. Realmente o japonês é um povo determinado e com uma grande capacidade de recuperação.
A reconstrução do país, após ser atingido por duas bombas atômicas na segunda guerra mundial é a maior prova disso. Era, até poucos dias, a terceira maior economia do mundo.
Mas tem muita gente falando na mídia coisas que acho não terem sentido. Repetem como um mantra a figura de um Japão que lutou muito durante anos e, como a alemanha, se recuperou economica e socialmente dos desastres da guerra.
Mas existirá esse mesmo Japão?
Será este o país que agora foi atingido pelas catástrofes naturais e começa a sofrer e a ser ameçado por uma catástrofe ainda maior, a nuclear? 
Creio que não!
Onde o Japão estava preparado tecnologica e estratégicamente para enfrentar as agruras de agora? Em nenhum lugar!

A total falta de ação do governo nos primeiros momentos dos acidentes foi algo impressionante. Logo em seguida ao tsunami que atingiu o país ficou claro que não existia nenhum esquema previamente determinado, treinado e previsto para enfrentar este tipo de desastre.
A demora e a falta de uma liderança política a se manifestar imediatamente como forma de arregimentar, organizar e socorrer o cidadão ficou patente. A inércia dos desabrigados, treinados para fazer o que o governo determina, vista nas TVs era chocante. Apenas esperam. Um tipo de obediência que impede o surgimento de iniciativas como redes de solidariedade. Esperam a ajuda do um governo, que tomado de surpresa pela dimensão do acontecido, demora, perde a maior parte do tempo avaliando os riscos e estragos não previstos.

 Somente cinco dias após o terremoto o imperador Akihito, figura extremamente querida e respeitada pelos japoneses, surgiu na TV para se comunicar com o seu povo. Diz a mídia que o discurso teve enorme repercussão. Onde? Nas partes não atingidas do país. Nas regiões devastadas não existia luz, TV, água ou comida. Pela primeira vez em 22 anos de reinado um chefe do Trono de Crisântemo, a dinastia reinante mais antiga do mundo, aparece na televisão. O discurso de Akihito, com 77 anos e saúde frágil, foi feito sem telepronpter. Leu um texto que segurava nas mãos.

O sistema político japonês é claro que difere em muito daquele que reconstruiu o país no pós-guerra. A decisão política de optar por energia nuclear em um país localizado em um enclave de placas tectônicas, que se movem quase constantemente, acreditando que com as tecnologias anti-terremotos dominadas tudo estaria seguro, hoje se percebe, é de uma irresponsabilidade atroz. Não só com o povo japonês, mas com toda a humanidade.

O Japão debutou na história como o único país a ser arrasado pela força da energia nuclear. Hoje, ameaça devolver esta radioatividade ao mundo.

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