domingo, 30 de agosto de 2009

DUAS CARAS DA MESMA MOEDA



Por Olsen Jr.

A música é uma de nossas manifestações artísticas mais acabadas. Quase a sublimação de uma arte que nos põe muito a frente de outros animais da mesma espécie. Os sons harmoniosos de uma canção podem nos levar ao nirvana, se é que isso é possível, com tudo o que se sabe do êxtase e do paraíso.

Tergiverso para dissimular a minha frustração, dia desses, quando entro num restaurante e está tocando música sertaneja. Não gosto, mas não desdenho. Fico no meu canto. Você não vai acabar com um domingo ensolarado onde está tudo certo exceto a música do local. A casa está vazia. Lá fora, em outro ambiente, apenas duas mesas ocupadas e cujos usuários, a meu ver, pouco estão se importando com o som que sai daquelas tímidas caixas.

Um dos garçons, meu conhecido, se aproxima e afirma: “sei que o senhor gosta de jazz, quem sabe a gente muda de canal, jazz clássico ou contemporâneo?” Olho para o “Piá” (esse é o seu apelido carinhoso) e digo: meu caro, a essas alturas do campeonato tudo está no lucro... Rimos.

Dou uma pausa em minha caminhada para bebericar uma cerveja, o cidadão me põe um jazz clássico, o dia está espetacular e você acredita que vou reclamar?

Mas tem indivíduos que não suportam o bem estar dos outros. Estou ali curtindo a cerveja e ouvindo o jazz e agradecendo aos céus por aquele privilégio. O devaneio é interrompido depois de menos de 15 minutos pela irritação da proprietária que sai lá detrás do caixa onde estava, passa por mim furiosa, pega uma cadeira põe em baixo do aparelho de tv que estava fixo na parede em um ponto mais elevado, sobe nela e clica o botão de desligar... Tudo fica em silêncio, ela retorna e indago, ainda sem entender o que estava acontecendo, o que houve? Ela responde arfante “essa música é muito chata”... Olho para os lados, nem os garçons estão entendendo nada, estava tocando Louis Armstrong e Oscar Peterson “I Get a Kick Out of You”, de Cole Porter ( o compositor favorito de Frank Sinatra e que também influenciou o Tom Jobim) para começar...

Ela poderia ter usado o controle remoto, mas aí o efeito plástico do seu desdém não surtiria o mesmo resultado. Pago a conta e deixo a cerveja pela metade, tão cedo não ponho os meus pés lá, também os meus ouvidos.

Li algum tempo atrás, no “Blog do Damião”, do amigo Damião, jornalista, poeta, sensível, essa história que é a contrapartida da outra. Ele estava em Itajaí, no shopping e ficou surpreso porque tocava Vivaldi no recinto. Logo se sentiu no primeiro mundo, um domingo pela manhã, ouvindo música clássica, até o cafezinho tem outro gosto. Depois soube pela proprietária do estabelecimento que aquela música erudita tinha sido a alternativa da administração para afugentar os “emos” (termo moderno para designar uma gurizada entre 13 e 21 anos que não lê nada, não vê cinema e nem teatro. Acreditam que a família é um mal necessário e andam em bandos, com outros com as mesmas aptidões, isso é nenhuma, buscando justificativas para suportar o que chamam “o tédio da existência”. Vestem-se de preto para deixar claro esse “desconforto” de viver e mostram que estão vivos com atitudes e comportamento desprezíveis como abrir pacotinhos de açúcar e espalhar pelo tampo de vidro das mesas, por exemplo... Uma boa ocupação para quem tem mingau na cabeça).

Na Alemanha, estudos científicos revelaram que o gado, gênero vacum, quando confinado em ambientes onde se ouvia música clássica, produzia mais leite que outros da mesma espécie em situação idêntica, mas sem a música.

A música esvazia qualquer angústia. Lembro do Paulo Francis comentando alguma coisa do gênero. Afirmava: “é melhor que Prozac. Misantropia não tem cura, porque é conclusão e não doença. Mas toda alma precisa de feriados”.

É isso, mas também, e principalmente, o que saber fazer com eles e elas: os feriados e a música.

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