quarta-feira, 22 de abril de 2009

De como Caymmi foi parar em Quaraí

Jerônimo com o avô gaiteiro.
Foto de Dario de Almeida Prado Jr. feita em 1985 no Campeche

Encontrei hoje um disco que há muito tempo procurava. Ao ver a capa de Cações Praieiras - gravado por Dorival Caymmi em 1954 - várias recordações vieram à minha mente. Boas recordações. Foi lá pelo ano de 1969 quando, por indicação médica, minha família foi veranear no balneário do Cassino, perto de Rio Grande, RS.
Meu pai me acordava às 6 hs da manhã para irmos à praia. Lá fazíamos exercícios de respiração em frente ao mar, uma fisio para curar a minha bronquite asmática. O pai, além de guarda de fronteira e político era músico. Tocava gaita de 8 baixos, em casa e no CTG. Daí que um dia, voltando da praia paramos em uma loja e lá estava o disco, gravado em 33 rpm, com sua capa cubista, colorida, maravilhoso. Não sei se o pai já conhecia o Caymmi, mas a expectativa de ouvir a sua música durou até voltarmos para Quaraí onde tínhamos um vitrola. Dali em diante o meu sistema cognitivo associou É doce morrer no mar...A jangada voltou só...A lenda do Abaeté.. e tantas outas músicas do bahiano com o cheiro de maresia, areia, mar e tudo de mais maravilhoso que existe na beira da praia.
Passei minha juventude escutando Dorival Caymmi, junto com Ray Conniff, Connie Francis e tantos outros da música universal. Mas esse disco me marcou sobremaneira pois estava associado a minha descoberta do mar que ficava há mais de 600 quilômetros de distância de Quaraí. Também me trazia lembranças da minha grande aventura no meu primeiro contato com o "alto mar": em uma pescaria na ponta dos Molhes (quebra-mar com mais de 3 mil metros mar a dentro) caí n'agua e fui salvo pelo meu pai. Quase uma tragédia que acabou com final feliz, da qual eu me orgulhava como aventureiro sobrevivente.
Lembro ainda hoje as inúmeras tentativas que meu pai fez para tirar as músicas do Caymmi na gaita de 8 baixos. Não sei se por dificuldade, mas depois de um tempo desistiu do projeto.
Um disco que, como já ouvi em algum lugar, ocupa um lugar especial no cancioneiro marcado por mares e marés, marinas e morenas. Ontem como hoje é doce mergulhar nas canções praieiras.

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